QUEM É VIVO...SEMPRE APARECE...

PUT' I KILL PAR YOU...

5 de jan. de 2010

BLASFÊMIA

Senhora da Várzea,
Senhora da Serra!
pelos teus santuários,
com cinza na testa,
irei arrastando
os joelhos e a reza:
subindo e descendo
ladeiras de pedra,
sustentando andores,
carregando velas,
para que me livres,
Senhora, da lepra!
Senhora da Várzea,
Senhora da Serra!
terás mais altares,
terás mais capelas,
sinos de mais bronze,
mais flores, mais festas
mais círios, mais rendas,
e de ouro coberta
brilharás, Senhora,
de fazer inveja
a todas as santas
que há na glória eterna!

Matei minha filha:
mas era tão bela!
Roubei cinco noivas:
mas o amor não cega?
E Deus não perdoa
a quem se confessa?
Ergui seis igrejas:
nenhuma te alegra?
Todas em memória
dessas seis donzelas
que por mim perderam
seu corpo, na terra...
Meus crimes, paguei-os
com brincos, fivelas,
coroas de prata,
e mais que te dera,
para me livrares,
Senhora, da lepra!

Senhora da Várzea!
Senhora da Serra!
pede-me por sonhos:
darei quanto peças
─ mais ouro, mais prata,
mais luzes, mais telas.
Maior que os meus crimes
é a minha promessa.

Vejo com os meus olhos
como degenera
a carne que tive.
Por que me desprezas
Senhora da Várzea?
Do mal que me cerca,
por que não me livras,
Senhora da Serra?
Mão com que matei,
hoje se me entreva.
Sinto desmanchada
em cinza funesta
a boca de outrora.
E a língua me emperra
aquela peçonha
de que seis donzelas
receberam morte,
lindas e sinceras.

Senhora da Várzea!
Senhora da Serra!
Paguei meus pecados
─ e não me libertas?
Calcaste dragões,
dominaste feras,
e ao mal que me oprime,
Senhora, me entregas?
Por que não me salvas?
Que ordenas? Que esperas?

Ah, santa insensível,
não sofres, não pecas!
Senhora da Várzea!
Senhora da Serra!
Devolve o ouro e a prata
das minhas ofertas!
Que o vento arrebente
portas e janelas
das tuas igrejas!
E fiquem nas trevas
ou sejam levados
pelas labaredas
altares queimados
e naves desertas!
Caiam no teu peito
mais agudas setas!
Arda em brasa o ramo
que nas mãos carregas!

Nunca mais se arrastem
meus joelhos nas pedras,
nem a minha boca
suspire mais rezas!
Nunca mais andores,
nem círios nem festas!
Dei-te seis igrejas:
que me deste? Lepra?

Senhora da Várzea!
Senhora da Serra!
Grito aos quatro ventos
do céu e da terra.
Conheci seis virgens:
nenhuma severa
como tu, nem fria,
serena e perversa!
Seis virgens matei!
Sou morto por esta!
Dei-lhe sedas e ouro
que às outras não dera!
Soluçar de joelhos,
- só diante dela!
Morro impenitente,
fazendo-lhe guerra.
Que o fogo profundo
lamba a minha lepra!
Seja eu todo cinza,
no tempo dispersa,
negra cinza do ódio
que te envolve e nega.
Senhora da Várzea,
Senhora da Serra,
ó virgem das virgens,
sem piedade ─ e ETERNA!

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